Li este texto “Viver longe dos irmãos” no facebook e fiquei muito emocionada. Me vi descrita em cada frase e parágrafo do que a escritora escreveu. De imediato, pensei: eu preciso compartilhar este texto com minhas leitoras. Houve uma época que vivi 5 anos longe de meus irmãos. Foi um tempo em que vivi em Portugal. Naqueles anos distantes a única comunicação era a carta e os telefonemas, que eram caríssimos. Acredito que, assim como eu, muitas de vocês têm irmãos ou irmãs. E, também se sentirão fazendo parte da sensibilidade desta autora. Ela soube colocar muito bem todos  os sentiments fraternos. Dedico este texto a todas as pessoas que têm irmãos e aos meus irmãos Jane, Janine e João Luiz.

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Viver longe dos irmãos – (Ruth Manus)

É viver meio longe de nós mesmos

Houve um tempo em que morar na mesma casa é que era o problema. Começamos com as disputas pelos brinquedos, depois pelo controle remoto, evoluindo para a trilha sonora no carro e o tempo de ocupação do banheiro. Tudo era razão para eclodir um embrião de guerra civil.

Todos nós já desejamos, do alto da nossa imaturidade convicta, que eles desaparecessem daquela casa. Que eles não acabassem com as bolachas recheadas, não comessem o último pedaço da lasanha, nem sumissem com as nossas meias preferidas. Já gritamos enfurecidos, dizendo que preferíamos dividir quarto com um animal qualquer do que com eles.

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E então os anos passaram e finalmente saímos de casa. Nós ou eles, ou nós e eles. Carreira, estudos, casamento ou qualquer outra razão fez com que aquele velho ninho da discórdia passasse a fazer parte apenas da memória e não mais de um dia a dia conturbado.

Pareceu-nos, muitas vezes, na ignorância da infância ou na estupidez da adolescência, que a felicidade seria muito mais viável sem a presença diuturna daquelas criaturas que insistiam em invadir nosso espaço, apesar de todas as ameaças que julgávamos lhes fazer.

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Mas essa ideia, como tantas outras que imaginávamos sobre a vida adulta, era uma cilada.

Hoje descobrimos que é extremamente dolorido ter que aproveitar a presença deles em eventos com hora marcada para terminar. Almoços, jantares, visitas. Que coisa sem cabimento. Eles têm hora para ir embora? Eu tenho hora para ir embora? Não, espera aí. Irmãos não foram feitos para ir embora. Foram feitos para ficar aqui, para podermos brigar sem pressa, ofender sem querer e amar sem prazo.

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Agora nos flagramos adultos, acelerando as conversas quando nos vemos, tentando aproveitar-nos ao máximo, lutando contra o relógio. Nos vemos tapando buracos com mensagens de whatsapp e linkando seus nomes em publicações de redes sociais que só eles entenderão. E às vezes, como quem sente uma pontada no peito, nos damos conta de que isso é tão, tão pouco.

As distâncias variam. Alguns moram a 50 metros, outros a 50km. Outros mais sofridos vivem a 500km ou 5.000km. Em sua medida, todos sabem como doer. Os beliscões de antigamente foram substituídos por abraços sedentos. E nós descobrimos que os abraços raros doem muito mais do que os beliscões raivosos.

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É bom saber que todos tomamos algum rumo, ainda que torto. É bom ver que a vida de cada um de nós caminhou. Mas é quase insuportável a ideia de tornar-se um espectador na vida de um irmão. Logo nós! Logo nós que sempre fomos os protagonistas de todos os espetáculos e shows de horrores das vidas deles… Logo nós.

Irmãos nunca deveriam ficar longe uns dos outros.

Juntos sempre foi melhor. Brigando, criticando, estapeando. O problema é que a vida adulta não nos faculta o luxo do perdão automático, nem da memória curta. Talvez por isso o tempo nos obrigue a aceitar alguma distância. Talvez, depois de abandonar a infância, a distância seja exatamente o que nos mantenha mais unidos.

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Não sei. Sei que, de um modo ou de outro, machuca. Ir embora sem conversar tanto quanto queria, pedir socorro às tecnologias para sentir-se menos distante, não ter nem tempo para brigar e beliscar como sempre foi. Mas é uma daquelas dorzinhas de sorte. Da qual só usufrui quem teve a sorte de ter um irmão presente, que já foi odiável e irritante, mas que hoje é uma saudade diária e a certeza de que para estar junto não é preciso estar perto.

Viver Longe dos Irmãos

RUTH MANUS é advogada e professora universitária. Lê Drummond, ouve pagode, ama chuchu com bacon e salas de embarque. Dá risada falando de coisa séria. Não perde um XV de Piracicaba contra Penapolense por nada. Sofre de incontinência verbal, tem medo de vaca e de olheiras, que nem todo mundo. Ela tem uma coluna no Jornal O Estadão de SP

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6 comentários

Comentário

Neisa, Lindo o texto. Me emocionei e pensei, eu Irma-Mae quantas brigas com vocês e quanto desejo de que Tudo fique Bem e que a gente possa curtir o resto de nossas vidas com muita uniao e cumplicidade. Bjs

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Oi Jane, se Deus quiser vamos curtir sim. Tudo tem seu tempo e ele se encarrega de tudo. Grande beijo!

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Que legal o texto e as fotos! Saudades de vocês!!! Beijos

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Oi Lu! Saudades de vocês também! Aproveitem esta viagem maravilhosa e vai nos dando notícias. Beijão!

Comentário

Que lindo o texto, estou em lágrimas aqui lembrando da nossa infância e convivência! Como era bom, nossas brigas, aventuras…. Que saudades!!!

Comentário

Oi NIne, é verdade! Eu também me emocionei! Grande beijo!

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